Audiência Pública debate OSs na gestão da saúde
O vereador Adhemar Freitas Júnior (SDD) relator do Projeto
de Lei nº 013/2021, de iniciativa do Executivo, solicitou a realização de uma
Audiência Pública para debater a matéria que trata sobre a qualificação das
Organizações Sociais (OSs), disciplina o procedimento de chamamento, seleções
públicas e dá outras providências. Promovida pela Comissão de Constituição e
Justiça, a audiência foi realizada nesta quarta-feira, 06, e teve como objetivo
discutir e esclarecer pontos do projeto antes da elaboração do parecer do
relator, principalmente, a questão que envolve a transferência da gestão da
saúde do município para entidades privadas.
Caso o projeto seja aprovado, as Organizações Sociais terão
condições de elaborar os contratos para gerir o que o município julgar útil e
necessário, como por exemplo, os Hospitais Públicos da cidade. Além disso, o
projeto abre a possibilidade das entidades atuarem na Assistência Social,
Cultura, Desenvolvimento Tecnológico, Educação, Gestão de Serviços, Esporte e
Lazer, Extensão Rural e Preservação do Meio Ambiente. Sem a presença de
representantes da Prefeitura de Imperatriz, não foi possível sanar as dúvidas
sobre a matéria, como se caberá ao Legislativo Municipal autorizar a
contratação por meio de chamamento público, a situação dos concursados e o
modelo de contratação dos profissionais.
O relator do projeto convidou a população de Imperatriz para
participar da discussão e contribuir com o debate que irá analisar se a
proposta do Executivo é benéfica e, também, lembrou que a aprovação da matéria
irá impactar no futuro da cidade e “ não somente da gestão atual, mas de todas
as que virão”.
“ É bom para Imperatriz ou não? A Câmara vai votar a pauta.
E essa votação irá repercutir sobre o futuro da cidade. Então é preciso que a
cidade se envolva. É preciso que Imperatriz participe do debate, ” recomendou
Adhemar Freitas Junior.
O vereador Flamarion Amaral (PCdoB), que sempre utiliza a
Tribuna da Casa para relatar as dificuldades enfrentadas pelos usuários da
saúde pública do município, novamente lamentou a falta de estrutura das
Unidades Básicas de Saúde.
“Uma bola de neve. Falta até dipirona. Os fornecedores estão
há mais de ano sem receber, as unidades básicas totalmente desfalcadas,
inclusive o secretário de saúde admitiu isso há poucos dias. Concursados que
passam e não são chamados, um verdadeiro golpe que foi dado próximo às
eleições. Ferramentas para enrolar o povo. A verdade deve ser dita. Esperamos
que venham discutir com decência este projeto com a Câmara, mas da forma que
nos foi enviado, é uma armadilha, uma imoralidade, ” alertou o parlamentar.
Carlos Hermes (PCdoB) explicou que estudou “minuciosamente o
projeto de criação da Lei, e o objetivo da audiência é trazer esses detalhes
para a sociedade”, mas lamentou a falta do secretário de saúde e da equipe do
município na Audiência e relembrou que, em 2017 a Casa aprovou o Zona sem
discussão e que será “contra qualquer lei desse tipo e que seja contrária ao
interesse do povo de Imperatriz”.
“ O debate é fundamental. A conclusão que tirei é que o
projeto é extremamente danoso para Imperatriz, pois vai terceirizar a saúde, e
da forma apresentada, essas OSs vão atuar em todas as secretarias, será
terceirizada a administração pública. Querem entregar a cidade com o aval da
Câmara, “ afirmou o vereador.
Também ao lamentar a ausência das equipes da Prefeitura de
Imperatriz no debate, o vereador Ricardo Seidel (PSD) explicou que é
“impossível se questionar algo sem o propositor presente” e apresentou alguns
questionamentos sem resposta.
“Qual será a economia para o município? Existe certificação
que garante que as cotas patronais sejam isentas? Haverá Agilidade nas
contratações? Será implantada automação? Quanto é gasto hoje, quanto se gastará
com a implantação? Não existe nada disso no projeto. Precisamos analisar esse
PL de forma clara para que se mostre a economicidade e a agilidade dessa
mudança. Sem dados a Câmara está impossibilitada de fazer qualquer análise, os
vereadores não querem votar no escuro, sem que o poder público venha explicar
para a população o que vai melhorar na vida dos imperatrizenses, ” questionou o
parlamentar que complementou que enquanto não comparecer uma pessoa preparada
para dar respostas não será possível a votação ocorrer.
Já o vereador Bebé Taxista (AVANTE) informou que pela
primeira vez foram convidadas várias organizações para discussão de um projeto
e observou que “de nada adianta fazer uma audiência como essa se a prefeitura
não participar". Segundo ele, "nem os vereadores de situação têm as
informações necessárias para convencer o parlamento”.
O vice-presidente da Casa, vereador Alex Silva (PL),
questionou a constitucionalidade do projeto e o que pode ser corrigido da
proposta apresentada, ressaltando que “nem o Ministério público compareceu”
para que “ a responsabilidade não seja toda jogada somente na Casa”.
“ Também gostaria de saber se Imperatriz está satisfeita com
as empresas terceirizadas no Estado, pois discutimos a saúde e o bem da cidade.
O município não pode, mas o estado pode, então não iremos deixar um olho
fechado e deixar o outro aberto. Que sejamos honestos e que votemos por
conhecimento, não por ignorância. Se não for bom que seja reprovado, se for bom
que aprovemos”, cobrou o parlamentar.
Chiquim da Diferro (DEM) ao parabenizar o parlamento pela
realização da audiência pública mostrou documentos que demonstram que as
empresas administradas por OS no Estado apresentam “uma gestão facilitada e
eficiente”.
“A preocupação do prefeito é oferecer uma saúde melhor para
a população. Temos que ter essa mesma preocupação, facilitar a vida do povo. A
cidade já teve a saúde terceirizada e foi melhorada na época. Eu sou a favor da
terceirização e não tenho medo de encarar essa realidade. Precisamos estudar o
projeto e analisar o que é melhor para Imperatriz. A saúde do estado está bem
melhor, a do município pode ser igual”.
Ao repudiar pessoas públicas que possuem negócios e parentes
na gestão e “que está amarrado para fiscalizar o executivo”, o vereador
Wanderson Manchinha (PSB) afirmou que sente que “o Projeto de Lei é obscuro e
não explica nada” e, também, questionou o não comparecimento do Executivo na
audiência.
“ Como ter uma saúde boa se tem profissionais e fornecedores
sem receber. Hoje aqui como um noivo que falta ao casamento, mandam uma lei e
não vem tratar do tema que é de interesse deles. Vamos marcar outra audiência e
eles nos digam porque é bom. É um desrespeito total ao parlamento. A primeira
proposta dessa gestão foi que fariam um novo Socorrão, pois se não roubasse o
dinheiro daria. Agora não dá e querem entregar a gestão para outras pessoas. As
ruas já estão loteadas, agora querem privatizar a saúde e a água da cidade.
Quem puder fiscalizar que digam ao mundo o que está acontecendo aqui, não somos
calangos. Não vim para cá para fazer isso nem nessa gestão nem em qualquer
outra”, disse Manchinha.
O relator finalizou a participação na audiência
parabenizando os que se fizeram presente e afirmou sofrer pressão “inclusive
para nem realizar a audiência pública”, mas que “não irá fazer o parecer sem
que Imperatriz saiba do que está sendo proposto para a cidade”. Segundo Adhemar
Freitas Junior, a mesma matéria já foi aprovada na Assembleia Legislativa, é a
Lei estadual 10.924/2018 que ao ser analisada se verificou a semelhança entre
ambas, mas que “mesmo com essa constatação, partidários do governo estadual são
contrários e descontentes com o projeto de lei do município”.
Convidados
Estiveram presentes na Audiência Pública, a conselheira do
Conselho Regional de Enfermagem (COREN), Lívia Bustamante, a representante do
Sindsaude, Janete Barreto, a representante da Comissão da Pessoa com
Deficiência da OAB, Regina Célia, o vice-presidente da Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Eduardo Palhares, o representante do
Conselho de Farmácia, Irisnaldo Gomes e a delegada do Conselho Regional de
Fisioterapia, Poliana Dias.
A preocupação pontuada por todos com a matéria é relacionada
a precarização do serviço público devido à falta de vínculo com o município e o
abandono dos trabalhadores quando as entidades contratadas não veem mais
lucratividade no contrato, deixando os profissionais sem receber, inclusive sem
ter os direitos trabalhistas respeitados.
O presidente da CCJ, Fábio Hernandez (PP) terminou a
audiência declarando que a ausência do Executivo “foi uma grande falta de
responsabilidade e um grande descaso com a casa de leis e com a população, pois
mesmo com o convite enviado a secretaria e todos os órgãos ligados à pasta,
nenhum representante da prefeitura compareceu”.
“Não teremos como votar algo dessa magnitude sem
especificações detalhadas e esclarecimentos dentro do debate que foi feito aqui
hoje. Desta vez não vamos permitir que empurrem a responsabilidade para esta
Casa, para depois jogarem a culpa nos vereadores”, encerrou.