1ª AP na história aborda às reivindicações da comunidade de Matriz Africana
Iniciando as comemorações da Semana Municipal da Consciência Negra, a primeira Audiência Pública para debater sobre reivindicações dos povos e comunidades de Matriz Africana de Imperatriz e região foi realizada na Câmara Municipal. Por iniciativa da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Gênero, a audiência contou com a presença de diversos representantes das tendas espíritas e terreiros da região, além dos representantes do poder público.
A primeira a utilizar a Tribuna foi a presidente da Associação de Terreiros de Religião e Cultura de Matriz Africana (Astercma) da cidade, conhecida como Mãe Léia, que emocionada relatou sobre os constantes preconceitos que a comunidade enfrenta, principalmente, na questão da intolerância religiosa. Segundo Leia, é necessário que o poder público também trabalhe pela representatividade da comunidade, inclusive com a legalização dos centros religiosos.
“ Temos muita dificuldade para regularizar os terreiros, pois falta na legislação o reconhecimento legal para que possamos ter direitos como centros religiosos com gratuidade nos cartórios, por exemplo. Hoje nos sentimos impotentes diante de uma sociedade racista e preconceituosa que não nos aceita como religiosos, por isso precisamos do apoio do poder público como representantes, porque também somos cidadãos e eleitores e temos direitos”, declarou Leia.
A presidente do Centro de Cultura Negra Negro Cosme, Herli de Sousa Carvalho, ao explanar no plenário manifestou a alegria em celebrar o momento na época em que se comemora a Semana Municipal de Consciência Negra e agradeceu ao presidente da comissão, vereador Aurélio Gomes (PT) por ter oportunizado a audiência.
“ Pedimos licenças aos nossos ancestrais para construirmos falas de gratidão ao vereador que nos propiciou esse momento de reflexão sobre as reivindicações de povos e comunidades tradicionais de matriz africana, tanto de Imperatriz como região”, disse Herli.
Já Davi Brandão de Jesus, professor e pedagogo, explicou sobre o termo “macumba” usado de maneira pejorativa na sociedade e que se trata de uma árvore existente na África e utilizada para a produção dos tambores. Ao relatar historicamente sobre a vida de resistência dos descendentes afro-brasileiros reforçou que existe “uma história negada de mais de 340 anos de um regime de escravidão”.
“Nós temos que preservar, cultuar e manter essa história, essa cultura. E, para essa permanência precisamos estar aqui, como estamos hoje, para reivindicar várias situações, direitos negados a nossa existência”, afirmou Davi.
A Promotora de Justiça, Samira Mercê dos Santos, coordenadora do núcleo de diversidade do Ministério Público do Maranhão, afirmou a necessidade de se ter igual tratamento, igual respeito e tolerância nas práticas religiosas e escolhas de bem viver de cada cidadão.
“ O respeito à religião, aos cultos, faz parte de um eixo de estrutura da cidadania, se existe algo impedindo isso é necessário que seja realizada denúncias nos canais corretos para que medidas sejam tomadas. Tivemos mais de 400 registros de violência de ódio e racismo na capital, e esses dados são importante para saírem da invisibilidade e se tornem mais que estatísticas, mas matéria de reivindicação e pressão nas autoridades para que se faça alguma coisa”, explicou a promotora que salientou a importância de denunciar os crimes de ódio e intolerância religiosa e racial.
O vereador Carlos Hermes (PCdoB) lamentou que a sociedade ainda tenha um retrocesso tão profundo com um olhar sobre a perspectiva colonial com a religião de matriz africana. Já o vereador Adhemar Freitas Junior (SDD) pontuou questões que são necessárias serem tomadas pelos vereadores, para encaminhar indicações e projetos que solucionem as reivindicações solicitadas.
O vereador Aurélio Gomes (PT) quem presidiu a audiência pública encerrou os trabalhos manifestando satisfação no debate e explicou os próximos passos que serão realizados após o debate, como os encaminhamentos das solicitações para as secretarias correspondentes, assim como, o protocolo de projetos nas comissões da Câmara para atender as reivindicações colocadas pelo público.
“ Será colocado na ata da audiência todos os encaminhamentos que serão realizados após a realização do debate de hoje e, sabemos que é somente o começo, a luta é árdua, é dura, mas só conseguimos as coisas na luta. Fizemos a primeira audiência nesta Casa de Leis, entrou na história de Imperatriz”, reforçou o vereador no encerramento.